Compare Preços

domingo, 11 de setembro de 2011

Brasil abaixo de zero

Guilber Hidaka
Lembro como se fosse hoje da primeira vez que vi neve pela televisão. As ruas brancas, carros cobertos de gelo e as luzes da Times Square, em Nova York, encheram os meus olhos. Criança curiosa que era – e ainda sou – não hesitei em perguntar à minha mãe: “Quando vai acontecer isso no Brasil?”. Ela sentou ao meu lado e disse: “Muito difícil, meu filho”. Hoje, como jornalista, compartilho com meus colegas certa inveja das revistas europeias e americanas, que encontram belos cenários com neve para fotos espetaculares em boa parte do ano. Mas como encontrar neve neste país tropical ou, no máximo, subtropical? Difícil é, mãe, mas não impossível...

Quem nasce na Serra Catarinense, um dos lugares mais frios do Brasil, está acostumado com uma vida, digamos, pouco brasileira. Em vez de castelinhos de areia, o negócio das crianças é fazer bonecos de neve. Onde? Nas cidades de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Jardim da Serra. Autoesporte passou três dias na região em um dos finais de semana mais frios do ano, quando a temperatura bateu 7º C negativos. A bordo de um Land Rover Discovery 4 TDV6, desbravamos 850 km, saindo de São Paulo com uma temperatura de 18º C e fomos recebidos por 10º C, o que os catarinenses da serra consideram ameno.

Guilber Hidaka
Os caçadores da neve perdida
A noite cai, e a expectativa toma conta de São Joaquim no sábado, com previsão de neve. Cinco passos na rua são suficientes para ouvir a palavra “neve” ao menos uma vez. Bonecos feitos de gesso imitam os que estamos acostumados a ver só em filmes. Eles estão espalhados por todas as partes e, por um momento, a sensação é de estar fora do Brasil. O bom e velho Fusca no meio do cenário nos conduz à realidade novamente. Nos restaurantes e hotéis, os olhares se voltam para as janelas a todo instante, e qualquer movimento no céu é motivo para correr até a rua e tentar encontrar um floco branco vindo lá de cima. Todos – inclusive nós – estão lá para ver neve. 
O clima da cidade é propício para o gelo cair do céu. Localizada a 1.353 metros de altura em relação ao mar e em uma linha onde passam ventos frios vindos da Cordilheira dos Andes, São Joaquim tem neve de cinco a sete dias ao ano. “Apenas um ou dois dias do ano a neve é bonita, deixa os campos e as ruas branquinhas”, conta o meteorologista Ronaldo Coutinho, que largou o calor de Florianópolis para morar em São Joaquim há 13 anos. A nevasca mais bonita dos últimos tempos foi em agosto do ano passado, quando nevou por dez horas seguidas. “Isso acontece, em média, a cada cinco anos”, diz. 


A viagem para a rota do frio fica ainda mais interessante quando se chega à região via Florianópolis (distante 227 km de São Joaquim) pelas curvas fechadas da Serra do Rio do Rastro, alvo da neve todos os anos, entre as cidades de Lauro Muller e Bom Jardim da Serra. Dali até Urubici, placas com o aviso de “gelo na pista” fazem a gente se sentir na Europa. A escrita em português e os carros nacionais lembram que, por mais incrível que pareça, estamos no Brasil. “Quando neva e concentra gelo na pista, as estradas na serra ficam fechadas. O risco de acidente é muito grande”, afirma Varlei Mariot, dono de um bar na região há mais de 20 anos. Até mesmo a vegetação é semelhante à europeia, com tom amarelado, muito diferente da mata atlântica servida de muita chuva e sol em grande parte do Brasil. E nada da bendita neve... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário